A bibliotecária
Na escola onde cursei o ginásio (sim, sou dessa época), tivemos uma biblioteca de fato. Era uma espécie de anexo construído no final do pavilhão de salas, num puxadinho. Era pequena na mesma proporção em que era aconchegante. Não por possuir acervo novo, mobília ou ambiente climatizado. Aquele espaço era sempre receptivo porque nele trabalhava uma senhora tão gentil e convidativa como a literatura. Já na iminência da sonhada aposentadoria, mesmo sem formação acadêmica, aquela professora normalista remanejada de função dava o ar de magia que as bibliotecas necessitam. Ela não ficava parada atrás do balcão de concreto. Antes mesmo de tocar o sinal da entrada ou da saída para o recreio, lá estava ela na porta com um sorriso largo no rosto, como aqueles que as avós esboçam para os netos. Era o convite para que adolescentes, tipicamente desinteressados por leitura, adentrassem o ambiente e fizessem a maior bagunça nas prateleiras, folheando e escolhendo o livro que levariam emprestado...