No Tocantins não há bambu
Logo após a retomada das aulas em formato presencial, chegamos ao famoso conselho de classe para encerrar o segundo bimestre. Na acolhida, como é de praxe, participamos de uma dinâmica organizada por uma colega professora aposentada que atualmente desempenha função técnica na rede municipal.
Na leitura compartilhada do texto “As dez lições do bambu”, a colega muito empenhada na missão de nos motivar, propôs o exercício reflexivo de nossa postura enquanto avaliador do aluno nesse contexto pandêmico.
Resiliência e flexibilidade foram as palavras centrais na dinâmica. Segundo o texto escolhido e as palavras da colega, ao contrário de árvores mais frondosas e de grande porte que têm a rigidez como principal característica, o bambu resiste à tempestades e à neve, justamente por ser flexível e resiliente durante períodos de crise.
Assim, o objetivo da mensagem foi de pedir aos professores um olhar atento, cuidadoso, humano, e flexível ao aluno no momento de avaliar sua aprendizagem nesse momento de readaptação. “Não podemos ser juízes implacáveis no momento de avaliar o aluno, devemos buscar a empatia, olhar esse aluno além das respostas apresentadas nas atividades. Assim como o bambu demora cerca de cinco anos para brotar, devemos também compreender que o aluno terá um tempo para desenvolver as habilidades do currículo”, ela dizia.
Todos concordamos com a reflexão da colega. Não há como ser professor da rede pública sem humanidade, sem empatia, sem flexibilidade e muito menos resiliência. Atuamos em escolas onde as temperaturas são muito elevadas e contamos apenas com poucos ventiladores, quando funcionam; em nossa escola não temos uma biblioteca tampouco laboratório de informática, quiçá robótica ou outros recursos da era digital. Nossos alunos em quase sua totalidade vivem em situação de vulnerabilidade social e suas reivindicações durante as escutas com a orientação giram sempre em torno de salas menos quentes e que a gestão aumente a quantidade de merenda servida durante as aulas. E por último, entre tantas demandas, embora tenhamos número de alunos reduzido, não há livros didáticos suficientes.
Ao responder ao convite da palestrante sobre o que podemos aprender com as dez lições do bambu, um colega observou que no estado do Tocantins não há bambus, aparentemente só árvores que têm a rigidez como característica. Não há empatia nem humanidade na pressão que a gestão estadual tem exercido para manter a aparência de “normalidade” na condução da educação em nosso estado. Embora todos os índices demonstrando ainda risco, todas as escolas foram obrigadas a retomar as aulas presenciais antes de completar o ciclo de imunização dos servidores com a segunda dose, sem regularizar a merenda escolar e sem garantir a estrutura sanitária satisfatória para tal.
Assim, a pressa pela retomada de forma brusca, com aulas de cinquenta minutos para que as quatro horas de atividade na escola sejam trabalhados, demonstram que a resiliência e a flexibilidade que exigem do professor ao avaliar o aluno conforme a lição do bambu, não são praticadas pela gestão. Até porque pra ser resiliente, propaga-se que devemos superar obstáculos, e em nossa jornada docente, tais obstáculos e crises têm sido uma constante.
Já dizia Darcy Ribeiro, a crise da educação não é uma crise, é um projeto. Para o servidor tem sido cada vez mais exaustiva a rotina. Mas par ao aluno, ser resiliente tem sido uma verdadeira odisseia.

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