Obsolescência programada em obras públicas?

 

Impulsionado pela Revolução Industrial, o capitalismo tem produzido efeitos diversos no seio social. Com vista direta ao lucro, projetado pela mão invisível do mercado, uma das suas principais características é a geração de riquezas para poucos.

Apesar do fomento à evolução de produtos e serviços, com ênfase no desenvolvimento tecnológico, os frutos desse modelo econômico não são tão doces como pensamos. Além da degradação ambiental; divergência entre capital e trabalho; alargamento das desigualdades sociais; e desvirtuação de valores humanos, o incentivo ao consumo em larga escala está entre os detalhes que contribuem para a manutenção do status quo da dinâmica social estratificada.

            Todas essas questões geralmente são discutidas em espaços de convivência e formação como organizações da sociedade civil e na escola. Mas, por que continuamos a consumir em demasia se já aprendemos que tal prática não nos beneficia enquanto fizermos parte da grande massa que ocupa a base da pirâmide social?

            A resposta é mais simples do que imaginamos. Vivemos a Era da Obsolescência programada. Como convencer os potenciais consumidores de que precisam adquirir cada vez mais produtos é mais trabalhoso, fabricantes investem na produção de itens programados para terem vida útil reduzida. De acordo com analistas do setor de tecnologias, a curta durabilidade, intencionalmente programada pelas fábricas, garante a frequência de compras e, consequentemente, o lucro das companhias.

            E como a tal mão invisível do mercado controla todos os setores do globo, é inevitável manter a esfera pública fora dos resquícios do Capitalismo. Pelo contrário, há quem diga que o mercado controla a política, e por consequência, a prestação dos serviços públicos. O que você acha?

            Eu considero que temos uma ampliação do conceito de obsolescência, que atinge diretamente a qualidade das obras e serviços públicos. Essa análise pode parecer radical, porém, basta sairmos à porta de casa e olhar em volta.

            Quando olho, vejo que a maioria das obras parecem ter sido feitas para não durar. Como exemplo, retomo aqui uma narrativa trazida por mim em meados de 2021. Em um artigo anterior, citei com entusiasmo a pavimentação de uma estrada vicinal que liga a comunidade rural onde parte da minha família reside à sede do município.

Após mais de 50 anos transitando com lama e poeira, o tão sonhado chão preto havia chegado. Pois essa mesma estrada, inaugurada no aniversário da cidade em outubro passado, já apresenta avarias em toda sua extensão. Erosões nas laterais e buracos na pista já perturbam a rotina de quem comemorava o benefício a menos de seis meses.

Desculpem-me os defensores do capital, mas pior que ser obrigado a comprar um aparelho eletrônico novo assim que a garantia do anterior acabe, é não ter o direito de desfrutar nem do prazo de validade de uma obra.

Com qual intenção ou por qual motivo as obras públicas não têm a devida durabilidade? Embora tendo uma possível resposta, esta última pergunta amigo leitor, deixo para você.

 

 

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