Não precisamos de armas, precisamos de livros cultura e paz
Geralmente escrevo motivada por indignação, para
reivindicar direitos básicos à comunidade que integro. Hoje escrevo impelida pelo
espanto, a comoção, a dor. Os direitos que reivindico dessa vez também são
básicos, e deveriam ser inerentes à condição humana: a segurança, a educação e
a vida.
Enquanto lia para meu filho uma história sobre valores como
a honestidade e a empatia, na “Fantástica fábrica de chocolates”, deparei-me
com mais uma escola servindo de cenário para a barbárie[1]!
Desta vez as vítimas não eram adolescentes que
possivelmente teriam cometido bullying. São crianças menores de sete anos que
tiveram as vidas interrompidas quando ainda davam seus primeiros passos.
Em plena semana que celebra a paixão de Cristo, nossas
rotinas são mais uma vez atravessadas pelo noticiário, que chega de forma
instantânea pelas redes sociais, dando conta de mais um atentado contra
estudantes, professores e a escola.
Questões de ordem socioemocional ou psicopatia, não podem ser tomadas como única causa para a recorrência de cenas como a da creche de Blumenau. Tampouco devem ser vistas como tragédia, como acontecimentos que não podem ser evitados. Estamos convivendo com o terrorismo assim como antes víamos em comunidades distantes de nosso continente. Os homens-bomba não estão apenas no oriente Médio. Como fiéis súditos da cultura de violência, tão disseminada entre os norte-americanos, aqui eles ainda não usaram bombas amarradas na cintura. Equipados com armas de fogo de todos os calibres, facas e machadinhas, estão entre nós, nas praças, clubes, igrejas...mas seu foco preferido tem sido a escola.
Esse alvo escolhido pelos terroristas não é mero acaso. A
função da escola como espaço privilegiado para o desenvolvimento do pensamento
crítico e a formação de cidadãos éticos e comprometidos com a transformação
social, tem sido colocada em xeque.
Além do sucateamento pela constante retirada de recursos em
todos os níveis, a escola, em especial as unidades da esfera pública, vem
sofrendo ataques de discursos extremistas proferidos pelos que se autodeclaram “cidadãos
de bem” e que viralizam como lugar de “balbúrdia” e “doutrinação”.
O mais sádico é saber que influenciadores digitais e
lideranças políticas têm pautado sua atuação na mídia única e exclusivamente
para atacar escola e professores, cerceando sua prática educativa pelo
aparelhamento da Educação, retirando do currículo o espaço para a construção de
pensamento crítico. Há ainda os que defendem o ensino domiciliar, como se vivêssemos
em um país onde não há concentração de renda e desigualdades continentais entre
os que podem custear formação individual e as centenas de milhões que sequer
têm as três principais refeições diárias. Utópico seria se não fosse criminoso.
Precisamos falar sobre a cultura da violência[2] que tem sido fomentada em
diversos espaços sociais, em especial no suporte digital. Além de perfis e
grupos virtuais que reverenciam líderes neofascistas e incitam a prática de
atos de terrorismo em nome da intolerância de toda ordem, figuras públicas têm usado
de seu lugar de prestígio para naturalizar comportamentos extremistas, sempre figurativizados
pela presença de armas seja em fotos, vídeos ou gestos com as mãos. Dos códigos
binários conectados via satélite, os bots de carne e osso assumem seu papel
temático de terrorista e obedecem aos comandos direcionados a esse lócus escola,
para escrever com o sangue de inocentes, crianças e adultos, as mensagens que
seus líderes, falsos profetas, enviam:
A escola não é um local seguro. Esvaziem esse espaço, esvaziem
seus percursos de aprendizagem, parem de refletir sobre os problemas sociais,
passem a acreditar em discursos intolerantes e fake news e obedeçam
apenas a nós, mensageiros do apocalipse.
Até quando cenas como esta vão se repetir? Transformar as
escolas em prisões, inserindo segurança armada não é a solução. Não precisamos
de armas, precisamos de livros, de cultura e de espaço para a construção de
pensamento crítico e a formação de pessoas éticas e humanas.
Promover cultura de paz[3] é pauta urgente,
principalmente na educação. Essa cultura que valoriza a vida só será possível
com a união de forças[4] contra a intolerância, contra
a naturalização da violência, e a favor da diversidade.
[1] Ataque em creche de Blumenau: tudo o que se sabe sobre tragédia em SC. Disponível em: < Ataque em creche de Blumenau: o que se sabe sobre tragédia em SC | Band (uol.com.br)> Acesso em 05 abr 2023.
[2] Estudos
apontam que a disseminação de conteúdos extremistas na internet (deep web)
contribuem para o aumento de casos. Disponível em: < Ataques
em escolas: antes restrito à 'deep web', conteúdo extremista contribui para
aumento de casos | Brasil | O Globo > Acesso em 05 abr 2023.
[3] Após
ataque em escola de SC, governo federal cria grupo para valorização da 'cultura
de paz'. Disponível em: < Após
ataque em escola de SC, governo federal cria grupo para valorização da 'cultura
de paz' (uol.com.br)> Acesso em 05 abr 2023
[4] O
perfil do extremismo nas escolas e como a sociedade precisa agir:
<O
perfil do extremismo nas escolas e como a sociedade precisa agir - PORVIR>
Acesso em 05 abr 2023.

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