82 anos de nascimento, quase 50 de saudade. Dr. Juca presente!



Fotografias em reprodução monocromática, boletins escolares, diplomas, notícias em recortes de jornais, algumas breves cartas sem endereço do remetente. O que pode suprir a dor da falta?

Os elementos expostos na galeria da Universidade Estadual do Maranhão em Porto Franco, neste São João de 2023 esforçam-se para figurativizar a trajetória do filho estudioso, do irmão carinhoso, do profissional dedicado e do militante aguerrido que teve sua jornada abreviada pela violência do Estado brasileiro.

Saindo do sul do país, o jovem recém formado em medicina, toma do juramento de Hipócrates a promessa solene de consagrar sua vida a serviço da humanidade, integra as fileiras da resistência e parte para a militância política, social e humanitária.

Pela rodovia Belém-Brasília, aporta às margens do Tocantins, na vida da pequena cidade e nos corações dos muitos pacientes atendidos com destreza e atenção nunca antes dedicada àquela gente simples. 

A saudade plantada no seio da família que ficara no Sul, rapidamente seria também o sentimento da comunidade que teve a honra de conviver com o jovem João Carlos Haas Sobrinho, o doutor Juca. Tamanha foi sua atuação na pequena Porto Franco, que seria inevitável a comoção popular diante da notícia de sua partida, mobilizando até o Bispo da Diocese local na tentativa de impedir que o jovem e bom doutor, que mais parecia um anjo disfarçado, deixasse novamente órfã aquela cidade esquecida pela atenção do poder público.

Todos os registros de sua convivência em casa, entre os amigos e no atendimento aos pacientes ainda não são suficientes para sanar o que a dor da falta, sentida como nostalgia, tem cavado nos corações de seus pares. Causada pela saudade dolorosa, como proposto por Greimas nos estudos da semiótica discursiva, pela “intensidade atinge um grau agudo: a saudade obsessiva é aquela que atormenta de maneira incessante, que se impõe sem dar tréguas”. 

Da tentativa de suprir a falta, a busca pela memória. É essa a missão dos elementos expostos naquela galeria. Figuras de uma saudade que perdura desde o último sorriso e o último abraço do filho, do irmão, do médico João Carlos, do amigo Dr. Juca que faria 82 anos nesse 24 de junho.

Para além dos registros, a busca incessante pelos indícios de seu assassinato, pelo direito a um enterro digno, pela necessidade de reconstrução de uma memória que não foi permito ser contada pela historiografia oficial.

Foi justamente por conviver com esse estado patêmico da falta, que sua irmã caçula, Sônia Haas, assume como missão de vida transformar as feridas abertas pela dor da ausência na busca pelo seu corpo, pelo direito à memória em quase 50 anos de espera, saudade e Resistência.

Dr. Juca, presente!

Comentários

  1. Texto maravilhoso. Nas pesquisas para organizar o Documentário, a cada dia descobrimos algo novo, surpreendente desse Brasileiro que amava o seu povo, em especial os mais simples.

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